A população está envelhecendo. Se considerarmos a cidade de Santa Maria, podemos afirmar que este processo vem acontecendo celeremente. Uma das maneiras de investirmos na qualidade de vida das pessoas idosas e em sua independência e autonomia, é investirmos em acessibilidade. Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público, “acessibilidade pode ser definida como a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização, em igualdade de oportunidades, com segurança e autonomia, do meio físico, do transporte, da informação e da comunicação, inclusive dos sistemas e tecnologias de informação e comunicação, bem como de outros serviços e instalações. Para as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, a acessibilidade possibilita uma vida independente e com participação plena em todos os seus aspectos; e para todas as pessoas, em diferentes contextos, pode proporcionar maior conforto, facilidade de uso, rapidez, satisfação, segurança e eficiência.”
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Trata-se de um conceito poderoso, contemporâneo. Permeado pelas palavras alcance, igualdade de oportunidades, segurança, autonomia, participação plena, é absolutamente compreensível que, para que as pessoas possam participar ativamente de sua vida em comunidade e na vida social, a acessibilidade é uma condição sine qua non. Por moderno e contemporâneo, podemos afirmar que qualquer sociedade, seja qual for sua dimensão – uma cidade, o país, o mundo, que deseje que estas palavras a caracterizem, necessariamente terá de investir em acessibilidade. E, certamente, é o que tem a fazer. Afinal, todos ganham com isso.
Olhe para o seu lado
Em decorrência de doenças ou do processo de envelhecimento, as pessoas idosas podem apresentar perda de força, equilíbrio e flexibilidade. É frequente a existência de sarcopenia, osteopenia ou osteossarcopenia (estes termos referem-se à perda de massa óssea, perda de massa e força muscular, ou ambos, frequentes no envelhecimento usual, mormente se acompanhado de doenças crônicas). A dificuldade de acesso aos aparatos públicos só agrava esta situação – exemplos comuns são a presença de escadas, pisos irregulares e falta de corrimões, que certamente influenciarão a capacidade de mobilidade das pessoas mais velhas. De fato, este tipo de obstáculo pode facilitar a ocorrência de quedas, e todo a sequência de eventos que eventualmente delas decorrem, as mais drásticas podendo levar a fraturas, com necessidade de hospitalização, cirurgia e um longo processo de reabilitação. Olhe para o seu lado: não é improvável que você tenha testemunhado, perto de você, uma situação como essa, recentemente.
O papel dos governos
Questões de ordem pessoal como transtornos visuais e auditivos são comuns na velhice. Iluminação inadequada, sinalização insuficiente e barreiras acústicas acabam afetando a vida diária das pessoas idosas. Sua melhoria reflete uma atitude de uma sociedade que se queira inclusiva. Não apenas para as pessoas idosas – importante frisar. Neste aspecto, governos têm um papel fundamental na promoção da acessibilidade. O poder público, através de legislações específicas, incentivos fiscais para empresas, tem um papel no sentido de estimular um pensamento inclusivo – ou seja, voltado às possibilidades de um mundo verdadeiramente acessível .
Nutrição da alma
A acessibilidade é um princípio do SUS. E a expressão acessibilidade em saúde tem uma enorme extensão e amplitude – é necessário refletir um pouco: acessibilidade não só significa o acesso às instituições de saúde em seu aspecto físico, bem como às complexidades de diagnóstico e terapia oferecidos pelo SUS. A acessibilidade permite que outro princípio do SUS, a Integralidade, se concretize – as pessoas só terão uma assistência integral à saúde se tiverem acesso aos diversos níveis e complexidade da atenção.
Em sua música Comida, composição de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, os Titãs cantam que “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. O alcance à diversidade das manifestações culturais e artísticas, bem como à tecnologia, são essenciais para que a acessibilidade seja um conceito que não alimente somente aspectos materiais e concretos. A nutrição da alma se faz com arte, música, poesia e literatura, com cinema e vivência social – e a tecnologia pode ser uma ferramenta para permitir este acesso. A Dra. Jadete Lampert, professora aposentada da Faculdade de Medicina da UFSM, produziu um texto, com seu grupo de trabalho “Tratado Cidadão”, onde são descritas uma série de providências a serem tomadas pela municipalidade no sentido de melhorar a vida das pessoas idosas em nossa cidade. E porque não sermos ambiciosos e pensarmos em Santa Maria como uma “Cidade Amiga do Idoso”? para tanto, precisamos garantir acesso.